por Julien Ineichen*
Na última quinta-feira (05) passei por uma experiência surpreendente. Atravessando a rua na esquina do Hospital da Restauração (Recife-PE), encontro ao lado do canal dois homens amarelos com seus apitos. Até aí, nada de especial, mas para meu espanto, um fiscal da CTTU estava ao lado deles. Vendo uma ótima oportunidade para colocar o agente publico em frente da sua responsabilidade de fiscalizar os carros que não respeitam a prioridade dos pedestres na faixa, eu iniciei uma conversa com ele. Pego de surpresa, ele me informou que tinha acabado de multar um motorista com esta infração. Ainda um pouco cético da veracidade desta boa notícia, eu continuei a conversa para melhor conhecer as atividades da CTTU à respeito desse ponto específico.
Não demorou 5 minutos e um carro parou ao nosso lado. Era a mulher que acabara de ter sido multada e que voltava acompanhada do marido. Ao pedido de esclarecimento deste último, que se apresentou como membro da polícia militar, nosso super agente relatou o comportamento inadequado da mulher. Ela tinha impedido os pedestres de atravessar a rua e nem reagiu aos apitos dos homens amarelos. Pedindo desculpa pelo incômodo, nosso agente diplomata declarou que a infração já estava sida registrada na sua máquina eletrônica e que por esta razão não podia fazer nada. Em seguida, ele aproveitou a minha presença para mostrar como estava sendo cobrado pelos próprios cidadãos.
Você pode imaginar o tamanho da minha felicidade? Primeiro por ter visto com meus próprios olhos um agente da CTTU fiscalizar um direito do pedestre e segundo por ver ele resistir com criatividade a uma tentativa de intimidação. Um protótipo, em carne e osso, de um radical potencial de melhoria da qualidade de vida do pedestre no Recife. Sem pensar duas vezes, perguntei se ele se interessaria em compartilhar suas experiências com uma equipe de planejamento urbano. Seu tempo estava muito corrido, mas ele poderia talvez dar um jeito. Então, ele me deu os seus contatos.
Meu encantamento de ter cruzado um novo herói urbano infelizmente se desintegrou rapidamente, uma vez que constatei que tanto o número de celular quanto o e-mail compartilhado por ele não existiam.
Ingênuo, inocente, cego?
Meu desapontamento pode ter sido causado por esses traços de caráter, mas me parece que este caminho sinuoso da “diplomacia recifense” tem segredos que precisam ser revelados e debatidos para podermos ajustá-los em prol de uma qualidade da vida coletiva.
*Julien é suíço, morador do Sítio Histórico de Olinda e urbanista do projeto Parque Capibaribe