Reportagem: Maíra Brandão
A pequena arena montada no térreo do INCITI/UFPE estava lotada na noite desta quinta-feira (3), por cerca de 70 pessoas curiosas para conhecer a experiência do arquiteto espanhol Javier Peña Ibáñez, que em passagem pelo Recife deu o ar da graça no nosso núcleo de Pesquisa e Inovação para as Cidades. Javier, que é conhecido por desenvolver projetos de design social e participação cidadã, apresentou a trajetória de reflexões que o levou a criar o Concéntrico – Festival de Arquitetura e Design de Logroño, cidade espanhola onde vive.
O arquiteto explicou que seus questionamentos mais fortes sobre o papel da arquitetura o guiaram a buscar outras formas para o desenvolvimento urbano. Ele contou que desde a Escola Técnica Superior de Madrid, onde se graduou, carregava essa inquietação, pois era um lugar onde os professores se identificavam como prédios, literalmente, em uma brincadeira que havia no campus, com fantasias. “E todo o conceito que gira em torno do universo da arquitetura me incomodava, porque eu não me identificava com grandes construções e capacetes amarelos”, contou.
Então, o espanhol decidiu dar início a atividades de escuta da população de sua cidade, no desejo de entender a percepção de quem ali morava. “Fui buscar experiências de participação social que possibilitassem que as pessoas contassem, escrevessem, desenhassem, representassem suas impressões sobre as cidades, no intuito de conectar temas urbanísticos a partir de quem vive nelas. Porque muitas vezes nós temos a missão de planejar mas estamos desligados dos problemas reais que existem”, explicou Javier.
O Festival é classificado por Javier de niño, um jovem empreendimento, já que a segunda edição será desenvolvida neste 2016. Mas apesar de jovem, a iniciativa é de grande força, pois começou buscando entender e demonstrar a convivência do centro histórico com a modernidade da periferia, características marcantes na sua cidade natal, Logroño. Daí veio o nome, concêntrico.
Para o Festival, Javier convidou pessoas que propuseram diversas modalidades de oficinas, lançamentos, concursos e intervenções. Nesse mix de arquitetura e design, a essência comum dos projetos era criar espaços efêmeros na cidade que levassem os transeuntes a refletir sobre os problemas urbanos. “Algumas intervenções não foram desenvolvidas por arquitetos, mas por artistas que conseguiam levantar respostas sobre a identidade urbana partindo da história, da literatura local. Não quer dizer que substitua um urbanista, um arquiteto, um designer, mas responde a determinados problemas que talvez nenhum deles percebesse”, disse.
Após apresentar todas as experiências desenvolvidas na primeira edição do Concêntrico, Javier concluiu: “Esses quatro dias foram suficientes para dar ideias para o desenvolvimento de novos projetos que podem mudar a nossa realidade”.