Compartilhamento, eletromagnetismo e imprevisibilidade humana em questão

As falas inspiradoras ficaram por conta de John Fass, Geraldine de Bastion e Pajé. Foto: Humberto Reis

As falas inspiradoras ficaram por conta de John Fass, Geraldine de Bastion e Pajé. Foto: Humberto Reis

Por Larissa Ribeiro Pinho Alves

No segundo dia do Urban Thinkers Campus Recife, o painel “Tecnocidades” abordou o atravessamento de questões tecnológicas na vida cotidiana e na construção da cidade, e contou com a participação de Geraldine de Bastion, consultora internacional na área de tecnologias da informação e comunicação e novas mídias para o desenvolvimento; John Fass, designer e pesquisador, com interesse em jornalismo computacional, narrativas cross-media e semiótica da interação; e Paulo Lara (Pajé), pesquisador do LABJOR (Laboratório de Jornalismo Científico da Unicamp), membro do rizoma de rádios livres, da rede espectro livre e do DRM Brasil. Com históricos e interesses diferentes, os participantes trouxeram perspectivas diversas para o debate, da problematização de iniciativas da chamada economia do compartilhamento, passando pela privatização do espectro eletromagnético, até o questionamento sobre visões paradigmáticas da cidade que excluem a imprevisibilidade humana.

Geraldine de Bastion deu início à conversa com uma fala sobre as consequências sociais da economia do compartilhamento e das inovações disruptivas – que criam novos mercados e redes de valor, perturbando mercados e redes já existentes e abordando um conjunto diferente de consumidores com novas soluções. Nesse primeiro momento, discutiu-se como a comercialização e capitalização vem corrompendo a ideia de economia do compartilhamento, e problematizou-se serviços como Uber e Airbnb. Geraldine propôs repensar os modelos de economia do compartilhamento para que se afaste a ideia de proveito próprio.

Paulo Lara (Pajé), por sua vez, trouxe para o debate a paisagem invisível da cidade, o ar. Esse ambiente etéreo que parece uma antítese da arquitetura, mas que é, também, um campo de batalha político, assim como a terra, a água e outros recursos naturais. Pajé questionou a privatização do ar e do espectro eletromagnético e apontou a necessidade de se garantir espaço no espectro para o uso público não-licenciado, com prioridade para iniciativas de base comunitária e sem fins lucrativos.

O terceiro momento da conversa, puxado por John Fass, abordou a questão: “Como as tecnologias abertas podem contribuir para as cidades inclusivas?”. Para começar, Fass colocou como parte do problema a maneira de pensar a cidade como um organismo, que possui partes diferentes, mas que estão sempre linkadas: a cidade como um organismo homeostático, que se auto repara e regula em direção a um equilíbrio dinâmico. Também foi problematizada a ideia de que a cidade se apresenta como um desafio de engenharia, onde tudo se resume a aumentar a performance, e onde não há espaço para a “natureza imprevisível do comportamento humano”. Além dessas duas questões, também foi criticada a utilização de mecanismos de controle nas cidades, que levam a criação de um panóptico urbano, como fica claro, por exemplo, em iniciativas como o Centro de Comando e Controle do Rio de Janeiro.

Parte dos esforços durante a manhã de conversa foi, então, de pensar discursos alternativos e uma metáfora diferente para pensar a cidade, que não traga como consequência o sequestro de bens comuns.