Som na Rural ativa debate sobre ocupações urbanas

Estética, poesia e políticas das ocupações foram debatidas no Som na Rural. Foto: Ana Luiza

Estética, poesia e políticas das ocupações foram debatidas no Som na Rural. Foto: Ana Luiza

Não poderia haver melhor cenário do que a rua para o debate que aconteceu no fim da tarde desta quarta-feira (25), dando início às atividades do Som na Rural, no Urban Thinkers Campus Recife. Aqui, nada de mesa redonda: o papo rolou num banco produzido coletivamente em workshops do INCITI/UFPE, no calçamento antigo da Rua Domingos José Martins, em frente a um edifício ocupado por pipoqueiros que atuam no bairro. A referida via, localizada entre as ruas da Guia e do Bom Jesus, no Bairro do Recife, é o laboratório urbano do UTC Recife e, com a ajuda de Roger de Renor, foi transformada em palco para debates, cineclubes, experimentos, prototipagens, intervenções e apresentações musicais. A programação é livre, ou seja, quem quiser deixar sua marca, propor sua ideia, marcar sua própria transformação da cidade: é só chegar e propor.

“Ocupações urbanas: ativismo, fetiche e políticas públicas” foi o tema proposto a uma série de coletivos e atores urbanos que ocuparam essa arena com uma calorosa discussão acerca das funções da ocupação das cidades nas sociedades contemporâneas. Estavam presentes: Camilo Cantor, designer industrial com experiência na criação de estratégias de colaboração online e gestão de projetos sociais e artísticos de Medellín, Colômbia; Bruna Pedrosa, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj)j; Bernardo Teshima, do coletivo Praias do Capibaribe, além de André Moraes, também parte desse coletivo, mas integrante do VAasTU e pesquisador do INCITI/UFPE; Laura Sobral, do coletivo paulistano A Batata Precisa de Você; e Aida Pontes e Pedro Rossi, do coletivo LabRua de Campina Grande, na Paraíba.

Roger, que comanda a Rural, mediou o debate. Foto: Ana Luiza

Roger, que comanda a Rural, mediou o debate. Foto: Ana Luiza

Os membros de cada coletivo descreveram suas ações. O LabRua, por exemplo, promove ações de ressignificação urbana em Campina Grande. “É interessante perceber que os movimentos estão acontecendo em cidades de diferentes portes”, disse Aida Pontes. Em São Paulo, a experiência de Laura Sobral e seu coletivo é a de ocupar, há dois anos, a praça do Largo da Batata com atividades e promover um calendário de auto gestão coletiva do espaço. Já o Praias do Capibaribe começou promovendo eventos na beira do rio. “Era um evento mensal e passou a ser um coletivo de pessoas que pensam o espaço público”, explica Bruna Pedrosa.

André Moraes fez algumas indagações acerca do tema, perguntando: “De que ocupação estamos falando? São as ocupações de espaço público a partir dos coletivos? São as ocupações a partir da moradia informal? São as ocupações da mente, são as ocupações dos ambulantes da cidade? Que ocupação é essa e que grau de prioridade são as ocupações?”.

Camilo Cantor destacou que as ocupações funcionam hoje como barricadas contemporâneas, que têm caracteres muito mais estéticos que violentos. “Esses espaços ocupados também são para ocupar o ócio. Não só ocupamos ruas, ocupamos espaços eletromagnéticos, cérebros, cadernos, livros de poesia, e ativismo poético”, disse. “”É nas tecnologias que vamos encontrar a energia para a resistência!”.

Após o debate, rolou apresentação do coletivo Hellcife Soundsytem e do multi artista Hélder Vasconcelos.