Por André Moraes de Almeida, originalmente publicado no Coletivamente.
“Este ensaio é dedicado ao homem ordinário. Herói comum. Personagem disseminada. Andarilho inumerável.” (Michel de Certeau)
Dois anos que ao meu ver se encerram hoje.
Em 2008 finalizei a graduação e por mais que a vida tenha me levado a praticar o fazer, me vi voltando à academia para enfrentar um mestrado. Um sonho de continuar estudando e realizando com foco em desenvolver ações em que realmente acreditasse, que estivessem mergulhadas de minha verdade e do que me move (crenças, sonhos, descobertas, valores…).
Sonhei e realizei tudo o que sonhei para esse ciclo. Esse todo inclui tantas coisas pensadas previamente, tantas coisas descobertas com o enfrentar e tantas coisas nunca pensadas.
Várias atividades desenvolvidas na busca do conhecimento, da troca do mesmo e dos diferentes. Decisões de caminhos a seguir tomadas e outras negadas. Uma vida acadêmica misturada à vida pessoal. Um saber construído evolutivamente com cada ato, cada processo, cada avaliação, cada novo ato…
Se o trabalho acadêmico pudesse ser contido pelo descoberta dos saberes poderia afirmar que esse dia de hoje seria o último dia. Dia que representa em essência o que foi sendo construído dia a dia, gota de suor a gota de suor.
Essa foto resumiria e serviria de marco para delimitar a pesquisa. Anos desenvolvendo atividades para se compreender; anos buscando caminhos e com isso negando ou eliminando outros; anos de busca por entendimento; anos de ação vinculada à intuição; anos de descobertas; anos de mudança de planos; anos de choro, suor, lágrima; anos de alegria, coragem e fé.
Fé na transformação, no ser humano, no amor e no cuidado, no poder de juntos sermos fortes e construirmos nossos mundos mais humanos e felizes.
Essa foto é uma surpresa para mim. E das melhores. Após dias de muitas mudanças pessoais, amorosas e profissionais, volto de um almoço com minha irmã, onde se foi falado sobre a vida, e vejo essa cena: alguns moradores, sem eu nem ter interferido em nada, se encontram e estão juntos limpando o mato e refazendo a calçada. A capacidade organizacional cidadã colocada na minha frente. O espírito de comunidade. O cuidado com a Rua da Alegria. A faísca da transformação acesa novamente. O vizinho ‘ogro’, ao lado do vizinho ‘fofoqueiro’ e do vizinho ‘doidão’ mexendo em ferramentas, em cimento e nos conhecimentos adquiridos com a vida.
Felicidade, gratidão e um sentimento de preenchimento e ter valido cada momento.
Mas como para a academia isso não basta, recolho minhas últimas energias para passar pro papel todo esse sentimento para, assim, entregar ao mundo meu olhar.